Vamos à Farmácia | Ana Quintela
Arroz vermelho para o colesterol
O arroz vermelho é fermentado com uma levedura designada por Monascus pupureus. A monacolina K, que resulta desta fermentação, tem uma estrutura muito semelhante à lovastatina, que é um medicamento usado para diminuir os níveis de colesterol. A monacolina K consegue actuar no nosso organismo numa enzima envolvida na produção de colesterol, sendo capaz de diminuir os seus níveis.
Os principais medicamentos utilizados para o colesterol, as estatinas, são desenvolvidos através da monacolina K. Sabe-se que a monacolina K diminui aproximadamente 16% os valores do colesterol total e pelo menos 22% dos valores de LDL (conhecido como colesterol mau).
Há estudos que comprovam os seus benefícios.
O primeiro grande estudo que validou a eficácia terapêutica do arroz vermelho fermentado decorreu em 1999 e o segundo em 2005. Em ambos foram feitas comparações entre doentes a tomar placebo e doentes a tomar monacolina K e verificaram-se melhorias no colesterol total e nos níveis de LDL.
Finalmente em 2011, a EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos) publicou um relatório a reforçar a evidência científica que confirma que a monacolina K presente no arroz vermelho fermentado tem efeito na diminuição do colesterol total, designadamente nos níveis de colesterol LDL. Embora nos estudos efectuados as doses de monacolina K fossem diferentes, a EFSA recomenda uma dose diária de 10mg.
É seguro tomar suplementos de arroz vermelho como alternativa às estatinas?
A levedura de arroz vermelho parece uma boa alternativa a quem tenha dificuldade de tolerar os efeitos secundários associados a uma terapêutica tradicional com estatinas. Enquanto os tratamentos com estatinas interagem com outros medicamentos e estão muito associados a cansaço, problemas digestivos e dores musculares, a levedura de arroz vermelho não apresenta efeitos adversos muito pronunciados.
Adicionalmente, pessoas que se recusem a tomar medicamentos para diminuir o colesterol e prefiram a toma de um produto natural para o efeito, a levedura de arroz vermelho parece apresentar-se como uma boa alternativa. No entanto, a verdade é que estes suplementos funcionam da mesma forma no nosso organismo, o que significa que embora em menor escala, há também a possibilidade de causarem efeitos secundários similares.
Existem ainda casos de reacção alérgica à levedura do arroz vermelho. Quanto ao seu uso durante a gravidez e na amamentação, é desaconselhado, pois não existem ainda dados de segurança suficientes, e nos animais causou defeitos à nascença. Quanto à sua toxicidade no fígado, os estudos existentes são muito ambíguos, pelo que o ideal será evitar a sua toma em casos de doença hepática.
Todos os medicamentos que interfiram com o citocromo P450 podem interagir com os suplementos de arroz vermelho fermentado, bem como a toranja, o álcool e outros suplementos ou medicamentos tóxicos para o fígado.
Posso introduzir na minha alimentação a monacolina K?
Na verdade, a levedura de arroz vermelho é diariamente utilizada na culinária em diversos países asiáticos. A fermentação de arroz com a levedura Monascus purpureus origina o arroz vermelho fermentado, que contém diversos tipos de monacolina. Porém a monacolina K é a única relevante no tratamento das dislipidémias. Ou seja, conforme a variedade de arroz vermelho fermentado, este pode conter quantidades muito diferentes de monacolina K.
Não está provado ser vantajoso introduzir na dieta o arroz vermelho fermentado. Se pretende uma diminuição mais eficaz dos níveis de colesterol deve preferir um suplemento de arroz vermelho com a monacolina K devidamente doseada e padronizada em cada comprimido.
Atenção aos suplementos – informe-se e desenvolva espírito crítico.
Após a introdução e comercialização em massa destes suplementos com arroz vermelho já foram efectuados diversos estudos com várias marcas existentes no mercado. Um estudo com resultados perturbantes publicado no Jornal Europeu de Cardiologia Preventiva mostrou a análise de 28 marcas diferentes de arroz vermelho e evidenciou que muitos desses suplementos não tinham sequer qualquer percentagem de monacolina K. Em alguns destes suplementos foi ainda comprovada a existência de compostos tóxicos, designadamente de citrinina, que é proveniente de processos de fermentação incorrecta e tem uma elevada toxicidade renal.
Tendo em conta estas conclusões, é mais que evidente a controvérsia relativamente à segurança destes suplementos, pelo que parece mais segura a terapêutica das dislipidémias prescrita pelo médico.
Não deve cair no erro de pensar que todos os suplementos naturais têm efeitos positivos na sua saúde. Aconselhe-se sempre com o seu médico e farmacêutico. Se tem níveis de colesterol muito elevados ou se já está a tomar medicação prescrita para o efeito, é importante falar com o seu médico antes de iniciar a toma deste tipo de suplementos.